Criadora do buggy BRM, a Montauto – Montadora Nacional de Automóveis Ltda. é a maior e uma das mais antigas fábricas de buggies do Brasil e a única a produzir em série seus veículos. Fundada em 1969, em São Paulo (SP), com a razão social BRM – Buggy Rodas e Motores Ltda., transferiu-se em 1981 para suas instalações atuais em São Bernardo do Campo (SP). No início a empresa encarregou-se apenas da montagem de buggies de outros fabricantes (Bugre e Glaspac foram duas das suas fornecedoras).
No final de 1973, após ter vendido cerca de 1.500 carros, decidiu produzir seus próprios modelos, lançando o primeiro carro com a sua marca – o modelo M-3. Os carros tinham desenho bastante próximo dos precursores norte-americanos Meyers Manx, porém diferiam no santantônio duplo e nos para-choques maiores. Podiam ser fornecidos sob a forma de kits (sempre montados pela própria BRM sobre plataforma fornecida pelo cliente) ou completos, com mecânica Volkswagen 1300, 1500 ou 1600. Em 1976 (ano em que ocorreu a primeira exportação – para os Emirados Árabes) havia quatro opções de acabamento: básica, standard, completa e luxo, as últimas incluindo bagageiro tubular na traseira, estepe sob o capô, santantônio no estilo targa e quadro do pára-brisa revestido de fibra de vidro. Naquele mesmo ano a empresa apresentou uma picape construída em plástico reforçado com fibra de vidro sobre a plataforma da Kombi 1500, reforçada com duas longarinas adicionais de modo a aumentar em 300 kg a capacidade de carga. Com um estilo decididamente elementar, o carro (batizado BR 101) tinha para-brisa plano de peça única e estepe montado externamente na dianteira. Eram várias as opções de carroceria: aberta, furgão, frigorífico e até motor-home.
O restante da década de 70 transcorreu sem lançamentos marcantes, sendo dedicado à consolidação da marca e à conquista do mercado nacional de buggies; a produção da picape foi descontinuada. A alteração mais importante do período foi o abandono das plataformas VW encurtadas por um chassi tubular com túnel central de chapa de aço de construção própria, integrado à carroceria de fibra, num sistema semelhante ao plaststeel, lançado pela Gurgel dez anos antes. Com esta solução técnica, o BRM foi responsável pelos primeiros buggies de construção monobloco do país. Os veículos com chassi tubular mantiveram o estilo anterior, no entanto receberam nova denominação ao serem lançados no Salão do Automóvel de 1978: M-4 (targa) e M-5 (modelo mais simples, com santantônio tubular).
Os anos 80 se iniciaram com mais novidades, a primeira delas o imponente jipe 4×2 Búfalo, apresentado em 1980, na feira internacional Brasil Transpo. A mecânica também era Volkswagen (suspensão dianteira e motor traseiro 1600 do Brasília, com um carburador e 65 cv, e caixa do Fusca 1300), porém com molas helicoidais na traseira e freios a disco à frente (foi o primeiro jipe brasileiro a usá-los). Com duas portas (de lona) e quatro lugares, o Búfalo tinha estrutura monobloco – carroceria de fibra de vidro integrada ao chassi de aço. O carro era equipado com guincho manual e engate para reboque e tinha o pneu estepe montado externamente, na traseira. Bancos e capota podiam ser confeccionados com lona listrada colorida ou na cor preta. Também em 1980, ano de recessão econômica, a BRM preparou seu autocross – um dos pioneiros no país. O veículo foi lançado comercialmente no ano seguinte, porém foi fabricado por pouco tempo. Tinha chassi tubular e configuração mecânica semelhante à do Búfalo (motor Brasília 1600 com carburação simples, caixa Fusca 1300 e freios a disco na frente). O kit de montagem compreendia chassi, dois bancos em concha, sistema de direção, faróis e lanternas. Como ajuda para o enfrentamento da crise, a empresa diversificou as atividades, passando também a fabricar acessórios para jipes e picapes.
Os buggies BRM ganharam sua primeira grande reestilização no segundo semestre de 1983. Dois modelos foram lançados em substituição aos anteriores: M-6 e M-7. O M-6, que recebeu faróis retangulares, tinha para-brisa rebatível e pneu de reserva sob o capô. O M-7 era a versão mais simples e, embora também apresentasse novo estilo na dianteira, com linhas mais angulosas, continuava utilizando os faróis redondos salientes oriundos dos primeiros buggies californianos e que vinham sendo usados pela BRM desde 1973. Os carros mantinham a mecânica VW 1600 (48 cv), porém com freio a disco à frente e molas helicoidais na suspensão traseira. Ambos os modelos podiam ser encontrados com duas opções de acabamento: standard e luxo (àquela altura os carros da BRM já eram reconhecidos como dos mais bem acabados do país). Era extensa a lista de opcionais: pintura metálica, para-brisa degradê, rodas, para-choques e santantônio cromados, rádio, porta-luvas com tampa, esguicho elétrico, instrumentação completa e carpete.
O XIII Salão do Automóvel, no final de 1984, teve dois lançamentos, ambos totalmente novos: o M-8, com a usual mecânica 1600 refrigerada a ar, porém com carroceria 30 cm mais curta (obtida pela drástica redução dos balanços dianteiro e traseiro e pelo entre-eixos 10 cm menor), aumentando os ângulos de ataque e de saída e melhorando seu comportamento no uso fora-de-estrada; e o inesperado M-9 (que não teve continuidade), meio-buggy meio-jipe com curiosa carroceria toda feita de superfícies planas, chanfros e ângulos retos. Com tração dianteira, foi especialmente projetado para receber os motores Volkswagen 1.6 e 1.8 refrigerados a água do Gol, Passat ou Santana. Um ano depois foi lançado o M-10, versão longa do M-8, que conviveu por algum tempo com o modelo antigo M-6, o qual acabou por substituir. A partir do M-8, todos os buggies BRM passaram a contar com saia traseira, que escondia e melhor protegia o motor. Eram quatro as opções de acabamento: BS, standard, luxo e off-road, esta com pneus lameiros em vez dos tradicionais dune. Comemorando os 20 anos de fundação, a BRM promoveu nova atualização de estilo, lançando em 1988, no XV Salão do Automóvel, o M-11, logo seguido da versão curta M-12. Dessa vez foram mantidas as linhas angulares da dianteira, mas as laterais foram bastante modificadas, ganhando volume nos para-lamas (especialmente o M-12) e nas saias laterais; foi resgatada a forração em vinil listrado, utilizado pela primeira vez no jipe Búfalo.
Como toda a pequena indústria nacional de automóveis, a BRM sentiu o impacto da abertura das importações no início da década de 90. A produção mensal, que já alcançara a média de 60 unidades, foi fortemente reduzida e nenhum novo modelo foi lançado por mais de dez anos, durante todo esse período sendo mantidos em linha os quatro modelos anteriores: M-8, M-10, M-11 e M-12. Ainda assim, a BRM adquiriu outras empresas em situação pior do que ela – a Magnata, em 1997, e a Cheda. A qualidade de fabricação de seus carros e o profissionalismo da empresa foram determinantes para que a BRM sobrevivesse àquele longo período de crise.
Apenas no século XXI veríamos um novo BRM – o M-8 Long, apresentado em 2002. O carro não tinha nenhuma vinculação com o antigo modelo curto M-8; pelo contrário, era o maior buggy até então fabricado pela empresa – 60 cm mais comprido do que o M-12 e 30 cm do que o M-11. Além disso, tinha estilo diverso: pela primeira vez um BRM trazia faróis redondos (incorporando as setas) e lanternas traseiras de formato elíptico, dando ao carro um simpático ar retrô. Também houve uma versão M-8 Long Exclusiv, “topo de linha” com lanternas traseiras do Fiat Siena, que foi descontinuada em 2007.
Em 2008 a BRM produzia quatro modelos: M-8 (o antigo, porém 30 cm mais longo), M-8 Long, M-10 “atualizado” e M-11 Way, um buggy com moderno design, desenvolvido pela paranaenseWay e desde 2004 também fabricado pela BRM (a empresa forneceu à Way seu know-how em projeto de chassis e, em troca, dela recebeu a licença para a utilização da carroceria). Destes quatro modelos, três permanecem em linha em 2014: M-8, M-8 Long e M-11. Desde sua fundação a BRM já construiu mais de 24 mil veículos. A produção média atual é de 20 unidades mensais
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